”Saudades do meu Brasil” – Leyla Barros e o Corona exílio na Suécia

Texto de Johan von Friedrichs  •  Tradução de Joaquim dos Santos

Leyla Barros, Rainha do Carnaval de Estocolmo 2020. Foto @ Ztefan Bertha.

Quando ouvimos falar pela primeira vez a respeito da pandemia, estávamos ocupados planejando a 27ª edição do ”Carnaval de Estocolmo 2020”, o maior Carnaval ”indoors” do norte Europeu, no Münchenbryggeriet, com capacidade para mais de 1.500 pessoas. Inicialmente marcado para o dia 21 de março, tudo foi preparado nos mínimos detalhes, como; som, luz, hospedagem, transporte, passagens aéreas, equipe de apoio, marketing e toda a logística necessária para uma super-produção. Diretamente da Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, contratamos o Digão do Cavaco, da Estação Primeira da Mangueira, como também Serginho do PortoLeyla Barros, a Rainha do Carnaval, ambos da Escola de Samba Estácio de Sá. 

Leyla Barros, Estocolmo 2020. Foto @ Ztefan Bertha.

Vizinha da Estácio de Sá, cuja quadra que é, a cerca de sua casa, onde a talentosa Leyla Barros iniciou sua vitoriosa carreira de Sambista aos 9 anos de idade, conquistando pertinentes premios como Passista, Destaque da Escola, Musa da Comunidade, Madrinha da Bateria e Rainha da Bateria, até alcançar o título de ”Rainha da Escola de Samba Estácio de Sá”! 

Leyla e sua filha de dois anos, aterrisaram no aeroporto de Arlanda em Estocolmo no início de março deste ano, sendo que, ninguém imaginava que a pandemia do Covid-19 traria consequências imprevisíveis para todos nós. 

– Cheguei em Estocolmo alegre, feliz, com muita expectative e energias positivas, pois no Brasil, o vírus ainda, não tinha manifestado sua face mortal.  

Mas em 15 de março, o governo sueco e a Agência de Saúde Pública Estatal, suspenderam por tempo indeterminado todos os eventos para mais de 50 pessoas. Então, agendamos o carnaval para finais de maio, remarcando passagens aéreas para todos os artistas internacionais e esperando que a pandemia passasse, como uma chuva de verão. Preocupante, a pandemia aumentou e já na primavera, a Suécia alcançou um dos maiores índices de mortalidade por habitante em escala mundial. Na maioria dos casos, afetou pessoas mais velhas, anciãos, estes mais propensos á contrair o vírus. Algo assustador. 

Com o passar do tempo, Leyla entendeu a seriedade da situação atual da pandemia no Brasil. Seria possivelmente o carnaval, o epicentro e a consequencia de milhares de infectados em ”Terra Brasilis” o maior motivo pela propagação do vírus em tamanha velocidade ? 

– Inicialmente fiquei surpresa e confusa pela forma de como os suecos se relacionavam com o vírus.O sentido foi que todos continuavam a viver suas vidas normais, como se nada tivesse acontecido. No Brasil, o uso de máscara era obrigatório e recomendava-se também a usar luvas e quase ninguém saia depois das 21 horas. Havia restrições severas e o ”lockdown” era controlado pela polícia, afirma Leyla.

– No começo eu tinha receio de sair de casa com minha filha. Eu não tinha certeza se eu poderia dançar, ter workshops públicos ou sambar juntamente com o grupo da minha irmã Lidiana. Mas aos poucos, fui entendendo a relação dos suecos com a pandemia, entendida como respeito social e responsabilidade pessoal, mas sempre mantendo a distância e lavando as mãos. Vivia então, com minha irmã e sua família, que me transmitiram uma grande tranquilidade e segurança nestes tempos difíceis.

Leyla Barros, Cidade Velha, Estocolmo 2020. Foto © Ztefan Bertha.

Durante a pandemia, Estocolmo transformou-se numa cidade fantasma com ruas vazias,noite e dia. A maioria trabalhava em casa, evitando o transporte público o tanto quanto podia, diferentemente da juventude sueca, que continuava a frequentar bares e restaurantes em todo o verão. 

O carnaval, que deveria ter acontecido em finais de maio, foi mais uma vez adiado para uma nova data em setembro. Leyla e sua filha, cuja autorização de residência na Suécia expiraria em meados de junho, foram surpreendidas pelo cancelamento do vôo ao Brasil, onde a situação piorava dia a dia. E Leyla,conversando diariamente com sua familia no Rio de Janeiro, foi convencida a ficar na Suécia, enquanto pudesse.

– Filha,não retorne agora, aqui está um caos,tudo fechado, aconselhou sua mãe.

Apesar de um quente, longo e divino verão, parece nada mudou, pois parece que a pandemia chegou para ficar, sendo que a propagação do virus aumentava em todo o mundo. Leyla e sua filha conseguiram, após o cancelamento do vôo em junho, estenderem suas a autorizaçãoes de residência na Suécia,e, mais uma vez, adiar a ”nossa” festa de carnaval, que planejada para Setembro foi postergada para o ano de 2021. 

Leyla Barros, Estocolmo 2020. Foto @ Ztefan Bertha.

Agora que você está voltando para casa, após quase oito meses na Suécia, que lembranças e experiências você levará de sua estadia aqui?!

– Eu adoro a Suécia e meu tempo aqui tem sido maravilhoso, especialmente quando penso em minha filha. Estocolmo é belíssima e meu lugar favorito é a cidade velha com suas belas casas antigas,seus becos,ruas estreitas, e restaurantes aconchegantes. Mas também foi um tempo que eu não consegui realizar nada do que planejei, devido á pandemia.

Leyla continua: – Foi bom visitar a Suécia, mas meu país é o Brasil. É lá que eu tenho minha vida e sinto muita falta de meus amigos, e do dia a dia na Cidade Maravilhosa, do afeto, do amor, dos abraços. Você sabe, nós brasileiros somos muito comunicativos e não estamos acostumados a manter distância. E no Rio a vida é muito intensa, estamos sempre fora de casa, curtindo os parques, as praças, a Escola de Samba.

No Brasil, devido a grande incerteza da propagação da pandemia, o Carnaval, inicialmente marcado para fevereiro de 2021, foi cancelado, como também todos os grandes eventos. Na Suécia, as restrições continuam limitadas e até o momento, não há novidades para eventos de grande porte. 

Leyla Barros em frente ao Palácio Real, Estocolmo 2020. Foto @ Ztefan Bertha.

Qual a sua expectativa em relação ao futuro?

– O vírus tem deixado marcas dolorosas. Tenho amigos de minha idade, da escola de samba Estácio, que faleceram. Entristeceu-me muito, mas ao mesmo tempo obtive uma maior visão e respeito pela pandemia, especialmente quando alguém próximo a você é afetado. Não é um ”resfriado” qualquer, como muitos afirmam. 

Lelya acredita que não haverá carnaval no Brasil antes de 2022. 

– Creio que demorará muito. Necessita-se pelo menos um ano de preparação para todos os envolvidos neste grande evento. Mas quando o carnaval realmente chegar em 2022, será extraordinário, com todas as emoções, alegria, e toda a energia acumulada desde 2020. Este será um carnaval inesquecível!

– Quando eu retornar para casa em outubro, será que ainda encontrarei os bares cheios, com a bateria da Estácio ensaindo todos os dias e sendo o carnaval assunto diário?! Já veremos. Mas adoro o meu Brasil. Um Brasil com ou sem caos e um Brasil com ou sem pandemia. Não me importa, eu amo minha terra natal e sempre voltarei.

Johan von Friedrichs (Bar Brasil Estocolmo) e Leyla Barros. Estocolmo 2020. Foto © Ztefan Bertha.

Leyla Barros: Nascido em 1990. Signo do Zodíaco: Leão. Sambista professional e artista circense na empresa Up Leon. Rainha da Escola do Samba” Estácio de Sá 2020. ”Rainha da Bateria” Estácio de Sá 2019. ”Madrinha da Bateria” Estácio de Sá 2012. Musa Calderão do Hulk 2016. Participei no show de Carlinhos de Jesus ”Lapa 40 Graus”. Passista do Acadêmicos do Salgueiro durante 7 anos. Rainha – ”Tudo de Samba” 2010. Atualmente coordenadora da ala passista da Estácio de Sá.

Johan von Friedrichs (Bar Brasil Estocolmo) e Leyla Barros. Estocolmo 2020. Foto © Ztefan Bertha.
Leyla Barros, Estocolmo 2020. Foto © Ztefan Bertha.

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